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As consequências da crise do metanol no podcast12

O 12º episódio do podcast Sem Dependência traz uma reflexão sobre o consumo de álcool e os riscos crescentes da exposição ao metanol, substância tóxica presente em bebidas adulteradas que já causou casos de intoxicação e mortes no país. O debate também aborda as causas dessa crise, o impacto do álcool na sociedade e as limitações das políticas públicas voltadas à dependência química.

Para o advogado e escritor Paulo Leme, os casos do metanol revelam o quanto o ser humano é imediatista em relação aos perigos. “Com os riscos do metanol, as pessoas param de consumir determinado produto porque percebem o perigo imediato. Porém, existe muito mais dificuldade de refletir sobre o consumo a longo prazo. Uma pessoa que tem histórico de dependência química na família começa a beber ainda jovem, apresenta queda no rendimento escolar, dificuldade de comportamento social e diz: ‘Ah, depois eu paro’. Essa capacidade de protelar é muito prejudicial. Mas, quando o prejuízo é imediato, a reação é outra.”

Ele lembra que o problema não se limita à falsificação, mas reflete uma cultura permissiva com o álcool, onde o consumo é estimulado desde cedo e raramente questionado.

Para Miguel Tortorelli, coordenador nacional da ONG Amor-Exigente, o cenário evidencia a banalização do uso de substâncias e a ausência de uma fiscalização eficaz. “O que nós precisamos é conscientizar os nossos jovens, principalmente, e hoje cresceu muito o consumo entre as mulheres de 18 a 25 anos, ou até 16, que estão bebendo mais que os homens. É algo preocupante. E isso é difícil de combater porque o que mais vemos é propaganda estimulando o consumo.”

O álcool como droga socialmente aceita

Ao longo da conversa, os participantes destacam que o álcool, embora legalizado, é responsável por graves problemas de saúde pública, violência e acidentes. O jornalista Fábio Piperno lembra que a crise do metanol também gera efeitos econômicos. “Você imagina, por exemplo, um restaurante que vive de vender comida e bebida. Muita gente não vai porque desconfia da procedência da bebida. Na dúvida, não consome. O restaurante compra menos, o garçom ganha menos, o fornecedor vende menos. É uma cadeia toda impactada, e a gente ainda não conseguiu mensurar esse prejuízo.”

Paulo Leme complementa que o consumo de álcool é fortemente incentivado pela publicidade e pelo contexto social. “A sociedade é regada a álcool, que é associado com prazeres emocionais e psicológicos. Onde tem festa, tem álcool. Vamos a batizados de criança, festas infantis, e a primeira coisa que aparece é uma bandeja com bebidas. O cara prefere não fazer a festa do que não servir álcool. Isso é um alerta que precisamos fazer enquanto sociedade.”

Banalização e consequências sociais

Os debatedores também discutem a banalização do beber excessivo, especialmente entre jovens. Para eles, campanhas de prevenção e políticas públicas continuam frágeis diante da pressão de interesses econômicos.

O jornalista Hugo Pereira reforça que a dependência química deve ser tratada como um problema coletivo, não individual. “O que nós vemos é cada vez mais propaganda estimulando o consumo. É um problema que causa uma cadeia sem fim: quando alguém desiste lá na ponta, cai venda no mercado, afeta o atacado, o comércio. É uma coisa complexa.”

Educação, família e responsabilidade

O episódio também destaca o papel das famílias e das comunidades na prevenção e recuperação. Paulo Leme lembra que programas como o Alcoólicos Anônimos mostram resultados reais quando há acolhimento e diálogo. “É difícil lidar com a dependência química porque as pessoas tendem a minimizar os riscos do futuro. Elas acham que vai acontecer com o outro, não com elas. Mas, quando o prejuízo é concreto, existe abertura para falar do assunto e mudar atitudes. As pessoas precisam ter mais consciência a respeito do risco, e saber que existe ajuda. Sempre existe ajuda.”

Ele também compartilha sua experiência pessoal de recuperação, reforçando a importância do apoio coletivo. “Eu parei de beber graças aos Alcoólicos Anônimos. Ir às reuniões me dava lucidez sobre a minha verdadeira condição. Eu sabia que não ia parar em um copo só, dali a pouco eu estava na cachaça, na rua, pedindo dinheiro. A frequência nas reuniões me salvou. Elas impedem que a ilusão volte, essa ideia de que dá pra tomar só meia cerveja e tudo bem. Essa é uma ilusão mortal em termos de dependência química.”

Sobre o podcast

O Sem Dependência é uma iniciativa que busca ampliar o debate sobre a dependência química, tema que afeta diretamente cerca de 10% da população brasileira. Em episódios quinzenais, o programa traz discussões sobre temas atuais, com base em dados, experiências e análises. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 30 milhões de brasileiros têm algum familiar dependente químico.

Mediado pelo jornalista Hugo Pereira, o podcast conta com a participação do advogado e escritor Paulo Leme Filho, do coordenador nacional da ONG Amor-Exigente, Miguel Tortorelli e do jornalista Fábio Piperno.

📩 contato@semdependencia.com.br
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