O episódio 9 do podcast “Sem Dependência” traz um debate sobre as conexões entre esporte e dependência química. A conversa aborda tanto o lado positivo do esporte como ferramenta de prevenção, especialmente para jovens, quanto histórias trágicas de atletas que se envolveram com álcool e outras drogas.
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“Esse problema existe desde sempre e acompanha o atleta desde a adolescência. Às vezes, é o próprio ambiente que provoca isso. O garoto se deixa seduzir e, muitas vezes, não consegue sair mais. Mas será que isso é discutido abertamente? Eu acho que não”, questiona Fábio Piperno.
O programa destaca como a pressão, a fama e a falta de suporte psicológico adequado podem criar um cenário de vulnerabilidade para jogadores de futebol e outros esportistas, especialmente no Brasil. Entre os casos citados estão Walter Casagrande Jr., Cicinho, Garrincha, Sócrates, Maradona e o inglês Paul Gascoigne, reforçando que a dependência química não faz distinção de classe social ou talento.
“O Garrincha tinha reconhecimento profissional e era casado com a Elza Soares, a artista brasileira do momento. Ele não teve uma vida miserável, sofrida, muito pelo contrário, e mesmo assim teve problemas graves com a dependência química”, comenta Paulo Leme Filho.
O episódio também aborda a fragilidade da base esportiva brasileira. Muitos jovens chegam aos clubes carregando a responsabilidade de sustentar a família, deparam-se com dinheiro e exposição repentina e, sem orientação adequada, ficam suscetíveis a caminhos perigosos.
“Será que não é muita pressão para essa criançada? Ninguém orienta, explicando que eles vão viver uma vida que poucas pessoas terão, mas que também trará tentações e pressões enormes. Quanto mais dinheiro se tem sendo muito jovem, mais fácil é se envolver em problemas sérios”, questiona o jornalista e mediador Hugo Pereira.
Os debatedores também ressaltam a importância de acompanhar a situação emocional desses jovens para evitar que eles caiam no vício. “A grande maioria dos jogadores vem de famílias humildes, muitas vezes já com problemas internos. Quando alguém oferece dinheiro para os pais de um garoto ainda em formação, é difícil manter o controle. Infelizmente, muitos acabam no alcoolismo. Precisamos investir mais na base”, afirma Miguel Tortorelli.
O debate vai além do esporte, lembrando que outros profissionais, como médicos, jornalistas e executivos também podem ter suas trajetórias interrompidas pela dependência química. Para os convidados, o uso de substâncias deve ser tratado como problema de saúde pública, não apenas como questão moral ou disciplinar.
“Você percebe que uma pessoa tem um problema com a dependência química quando aquilo traz prejuízos à vida social, cotidiana e familiar dela. Quando você tem problemas associados ao uso de alguma substância, pode cravar que você tem uma grande probabilidade de ser um dependente químico. Então, isso daí já é um sinal claro”, alerta Paulo Leme.
Os debatedores também criticam a falta de ações preventivas efetivas nos clubes e a ausência de políticas públicas de saúde mental voltadas ao esporte. Destacam que o Estado deve atuar de forma abrangente, considerando as realidades do país.
“Quando falamos de políticas públicas para dependência química, precisamos pensar na realidade de toda a população. Não adianta citar uma clínica de excelência no Canadá se isso não se aplica ao nosso contexto. As soluções precisam ser viáveis para todos”, observa Paulo Leme Filho.
O episódio conclui que enfrentar a dependência química no esporte exige esforço conjunto entre Estado, clubes, famílias, patrocinadores e profissionais de saúde, com foco na prevenção, no apoio psicológico e no tratamento contínuo.
“Você percebe que uma pessoa tem um problema com a dependência química quando aquilo traz prejuízos à vida social, cotidiana e familiar dela. Quando você tem problemas associados ao uso de alguma substância, pode cravar que você tem uma grande probabilidade de ser um dependente químico. Então, isso daí já é um sinal claro”, alerta Paulo Leme.
O Sem Dependência é uma iniciativa que busca ampliar o debate sobre a dependência química, tema que afeta diretamente cerca de 10% da população brasileira. Em episódios quinzenais, o programa traz discussões sobre temas atuais, com base em dados, experiências e análises. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 30 milhões de brasileiros têm algum familiar dependente químico.
Mediado pelo jornalista Hugo Pereira, o podcast conta com a participação do advogado e escritor Paulo Leme Filho, do coordenador nacional da ONG Amor-Exigente, Miguel Tortorelli e do jornalista Fábio Piperno.