Episódio analisa consequências do remanejo e aponta caminhos para soluções
O episódio 6 do podcast “Sem Dependência” promoveu um intenso debate sobre o “aparente fim” da Cracolândia no centro de São Paulo. No mês de maio de 2025, a região central da capital, próxima à estação Luz — tradicional ponto de concentração de usuários de crack e álcool — amanheceu praticamente vazia. A prefeitura declarou que a dispersão de usuários ocorreu graças a uma série de ações articuladas nas áreas de saúde, assistência social, trabalho, zeladoria e segurança pública.
O programa analisou os desdobramentos da Operação Saúde e Dignidade, organizada pelo Ministério Público, Prefeitura e Governo do Estado, que resultou na retirada de usuários da área e no fechamento de comércios ilegais como ferros-velhos, hotéis e comércios. No estúdio, o ponto central da discussão foi a crítica à narrativa de que o problema estaria resolvido. Paulo Leme Filho, Miguel Tortorelli e Fábio Piperno avaliam que o esvaziamento da Cracolândia representa apenas uma mudança de endereço do problema da dependência química. Embasados por reportagens recentes eles contam que após a ação, os usuários de drogas e álcool se espalharam por outras regiões da cidade e alertam que a situação pode se agravar, com a geração de “mini Cracolândias” sem qualquer infraestrutura de assistência.
“Agora que o problema não está mais visível, muitos acham que ele foi resolvido, o que é um erro grave”, apontou Paulo Leme. Ele defende uma atuação articulada do Estado, com políticas públicas efetivas nas áreas da saúde, educação e assistência social, além da criação de um órgão específico com autoridade para enfrentar o tema com seriedade.
Miguel Tortorelli reforçou que sem oferta real de tratamento e recuperação, o problema persiste: “Eles mudaram de lugar, mas continuam com os mesmos vícios e necessidades.” Já Piperno destacou o impacto urbano e político da operação, lançando ta,mbém uma provocação: “E as pessoas? Para onde foram? O tráfico sabe, porque elas continuam sendo consumidoras.”
Visão de quem conhece a situção
“É fundamental um trabalho articulado, inclusive com os hospitais públicos, para enfrentar a dependência com seriedade. Hoje, o dependente químico é o principal usuário do sistema de saúde — tanto público quanto privado. Ele entra por um acidente de trânsito, depois por hipertensão, diabetes, cirrose hepática… até passar um mês na UTI antes de morrer. Tudo isso é consequência do uso contínuo. E o mais alarmante: após o acidente, alguém ainda diz ‘beba com moderação’, como se isso fosse possível. Para quem é dependente, moderação simplesmente não existe”, afirma o advogado Paulo Leme.
O episódio conclui que o desafio real está longe de terminar. O fim da concentração na Cracolândia é apenas um novo capítulo de um problema estrutural que exige planejamento, investimento e compromisso político de longo prazo.
Sobre o podcast
O Sem Dependência é uma iniciativa que busca ampliar o debate sobre a dependência química, um tema que afeta diretamente cerca de 10% da população brasileira, promovendo nos seus episódios quinzenais debates sobre temas atuais. Segundo dados da OMS, quase 30 milhões de brasileiros têm algum familiar dependente químico.
Mediado pelo jornalista Hugo Pereira, o podcast conta com a participação do advogado e escritor Paulo Leme Filho, do ex-coordenador Geral da ONG Amor-Exigente, Miguel Tortorelli e do jornalista Fábio Piperno.
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